Oito anos depois, a selecção nacional de futebol, os Mambas, volta a qualificar-se para o Campeonato Africano das Nações, dedicado aos jogadores que actuam nas ligas domésticas, vulgarmente conhecido por CHAN. O passaporte rumo à Argélia foi carimbado na tarde de ontem, no Estádio Nacional do Zimpeto. Um empate sem abertura de contagem foi suficiente para deixar para trás o Malawi, num jogo em que ficou evidente a reconciliação com o público.
Texto: Amad Canda
A 25 de Agosto, os jogadores que compõem o esquadrão nacional estiveram em greve de fome, como forma de pressionar a Federação Moçambicana de Futebol a pagar uma dívida relacionada com os prémios de jogos. Alguns dias depois, o Banco Nacional de Investimento (BNI) anunciava 1.200.000 (um milhão e duzentos mil meticais) para “matar a fome de dinheiro”.
Ao guarda-redes, o BNI assegurava uma “sobremesa” de 100 mil meticais caso não sofresse nenhum golo. “Estão a dizer que o importante é não perder”, observou um adepto da selecção nacional, no interior do ENZ, quando faltavam 30 minutos para o apito inicial.
Meia hora depois, a bola começava a rolar e os Mambas davam indicações de que não estavam ali para fazer serviços mínimos, apesar de cientes de que um empate sem abertura de contagem era suficiente para atingir o objectivo de chegar ao CHAN da Argélia, dada a vantagem que traziam de Lilongwe, onde empataram a uma bola.
Moçambique mostrava fome de bola e… de golo, o que ficou provado nos primeiros minutos da etapa inicial, quando Isac apareceu para criar perigo na baliza adversária. A necessitarem de anular a desvantagem da primeira mão, os malawianos não se acovardaram e responderam, quase de imediato, com dois remates, ambos bem defendidos por Ernani.
Com o seu 4-4-2, os Mambas tiveram dificuldades de accionar os médios interiores, dada a boa organização do Malawi, que defendia em bloco médio e com uma linha média que privilegiava o preenchimento do espaço central.
Neste contexto, Moçambique tentou jogar, se calhar de forma excessiva, por fora, particularmente pelo lado direito, de onde surgiram os maiores lances de perigo, quer através de cruzamentos, quer através de jogadas de entendimento entre o médio-ala e Isac, que se mostrou exímio na nas movimentações.
Nas bancadas, pedia-se golo, mas o intervalo chegou com o nulo a prevalecer. Na segunda parte, a equipa voltou sem Isac, que foi substituído por Lau King – o king dos golos do Moçambola.
Com a entrada do jogador da União Desportiva de Songo, os Mambas passavam a ter uma referência na área, mas perdiam o discernimento e o recorte técnico que o capitão Isac emprestava ao jogo.
Viu-se mais futebol directo, sempre à procura de Lau King, que até ganhou meia dúzia de bolas, mas nunca soube dar seguimento aos lances, porque tecnicamente menos capaz, mas também porque, em certas alturas, faltavam-lhe linhas de passe.
De resto, a prestação de Lau nada teve de King. Foi de uma miséria comparável à de meros escravos. Para coroar a má entrada, ainda desperdiçou uma ocasião flagrante, quando um contrário lhe ofereceu a possibilidade de estar frente-a-frente com o guarda-redes malawiano.
O golo não mais surgiu e, em largos momentos da segunda parte, ficou claro que os Mambas estavam conformados com o 0-0, que afinal servia para cometer a façanha de chegar ao CHAN.
O apito final ecoou e ENZ explodiu de alegria, numa partida em que os adeptos mostraram estar reconciliados com o combinado nacional. A invasão do relvado depois do jogo para festejar com os jogadores, apesar de todo embaraço e de poder acarretar consequências, foi uma demonstração genuína do clima de paz reinante entre a turma de Chiquinho Conde e a “Onda Vermelha”.