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FACE À CONTINUIDADE DA GUERRA NA UCRÂNIA: Especialistas defendem que neutralidade continua a melhor opção

A continuação da guerra na Ucrânia coloca Moçambique e outros países africanos numa encruzilhada diplomática. Especialistas em geopolítica e relações internacionais, que pediram para manter suas identidades protegidas, argumentam que a posição de neutralidade adoptada por Moçambique nas votações das Nações Unidas tem se mostrado a estratégia mais prudente para a região. Moçambique, membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, nunca votou a favor da condenação da Rússia, preferindo abster-se. Esta postura está alinhada com o principal objectivo da política externa do País: criar amigos, não inimigos.

Texto: Dossiers & Factos

De acordo com os especialistas, face à colisão de interesses geopolíticos entre grandes potências, como os Estados Unidos e a Rússia, a neutralidade oferece uma margem de segurança e autonomia aos países africanos. Fora da esfera dos antigos países da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, é quase impossível compreender completamente as causas da guerra. Esta complexidade reforça a necessidade de uma postura neutra, evitando envolvimento directo num conflito cujas raízes e motivações são profundamente enraizadas em questões históricas e políticas específicas daquela região.

Apesar das pressões e, em alguns casos, da chantagem por parte do núcleo ocidental, manter uma posição de neutralidade é crucial, defendem os especialistas. Participar activamente no conflito, através do envio de armamento ou soldados, não só comprometeria a segurança nacional, mas também desviaria recursos essenciais necessários para enfrentar os desafios internos, como o terrorismo em Cabo Delgado. Este é um problema que preocupa muito menos Washington, que está mais focado em alimentar a guerra na Ucrânia e em Gaza.

Até ao momento, não há evidências de que Moçambique tenha recebido material militar significativo de nações ocidentais. Em vez disso, há apelos contínuos para que os países africanos se posicionem ao lado da Ucrânia e até enviem material de apoio. Este desequilíbrio nas expectativas internacionais versus a realidade das necessidades internas sublinha a sabedoria de uma postura neutra, afirmam os especialistas.

A história recente mostra que a neutralidade pode ser uma ferramenta poderosa na diplomacia internacional. Moçambique tem uma tradição de mediação e resolução pacífica de conflitos, tanto a nível regional quanto global. Manter esta tradição, especialmente num cenário tão polarizado, ajuda a proteger os interesses nacionais enquanto promove uma imagem de país pacificador e mediador, explicam os especialistas.

A neutralidade também permite a Moçambique manter boas relações com ambos os lados do conflito, garantindo assim que o País não sofra sanções ou represálias que poderiam prejudicar a sua economia e estabilidade política. Além disso, uma postura neu tra oferece a flexibilidade necessária para agir como um potencial mediador, caso as circunstâncias evoluam para um cenário onde a mediação seja possível e desejada.

A posição de neutralidade é também uma demonstração de independência e soberania. Ao não se alinhar cegamente com nenhuma das potências envolvidas, Moçambique reafirma a sua capacidade de tomar decisões baseadas nos seus próprios interesses e valores, em vez de ceder a pressões externas, destacam os especialistas.

No contexto africano, muitos países enfrentam dilemas semelhantes. A neutralidade pode servir de modelo para outras nações do continente que desejam preservar a sua autonomia e evitar os perigos de se envolverem em conflitos alheios. A solidariedade africana em torno de uma postura neutra pode fortalecer a posição colectiva do continente no cenário internacional, sugerem os especialistas.

O princípio de criar amigos e não inimigos é espe cialmente relevante numa era de globalização e interdependência económica. Manter portas abertas com várias nações pode trazer benefícios económicos, diplomáticos e culturais que superam em muito os ganhos de curto prazo de se aliar a uma única potência, apontam os especialistas.

A posição de Moçambique é uma lembrança de que, em tempos de crise, a sabedoria muitas vezes reside na prudência e na moderação. Ao resistir à pressão para se envolver directamente no conflito, Moçambique não só protege os seus próprios interesses, mas também contribui para uma possível resolução pacífica, ao manter uma postura aberta ao diálogo e à negociação.

Por fim, as fontes defendem que a neutralidade é uma forma de manter a dignidade e o respeito no cenário internacional. Ao não se submeter a pressões externas, Moçambique mostra que é um país que valoriza a sua soberania e está comprometido com os princípios da paz e da cooperação internacional, enfatizam os especialistas.

 

Texto extraído na edição 564 do Jornal Dossiers & Factos

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