EnglishPortuguese

Gás e o desenvolvimento sustentável

Após longos anos, Moçambique tornou-se no ano passado membro do grande “clube do gás”, pouco tempo depois de realizada a primeira exportação do Gás Natural Liquefeito produzido na Plataforma Coral-Sul, na área 4 da Bacia do Rovuma. É uma notícia boa, que todos os moçambicanos ansiavam ouvir. Afinal, o gás pode ser uma óptima oportunidade para tirar a economia da letargiam, em que se encontra.
Nessa altura, o Presidente da República fez um apelo aos moçambicanos para que moderem as suas expectativas. É uma mensagem completamente oportuna, quanto a nós, pois acreditar que o gás há-de resolver os nossos problemas do dia para a noite não é nada mais do que uma perspectiva irrealista que, inevitavelmente, resultará em frustração.
Entretanto, a importância do gás é enorme e é importante que todos tenham noção disso, até para evitar um eventual descaso por parte de quem gere as contas públicas. Se é certo que o país não vai mudar num estalar de dedos, não é menos verdade que a exploração deste recurso energético pode ser o início de uma revolução a longo prazo.
Desde logo, há que sublinhar a feliz coincidência de este exercício se dar em pleno período de crise energética na Europa, facto que deriva de uma circunstância infeliz e indesejável: o conflito militar entre a Rússia e a Ucrânia. Mas, Moçambique não tem culpa nenhuma no que está a acontecer e não se deve esquivar da oportunidade que se lhe apareceu pela frente, nomeadamente de se tornar um actor relevante para os países europeus, que enfrentam uma escassez que pode ter consequências gravosas.
Por outro lado, o gás é o recurso escolhido como energia de transição das fontes de energias sujas para as limpas, processo que, segundo estimam vários especialistas na matéria, deverá durar cinco décadas. Ou seja, tudo parece conspirar a favor de Moçambique neste momento, excepto a falta de pressa da Total Energies. No entanto, só poderemos mudar verdadeiramente a face deste país se aplicarmos um modelo de gestão criterioso e virado para a promoção do desenvolvimento sustentável.
Isso passa, como muitos têm defendido, pela criação de um fundo soberano – processo que, felizmente, já está em curso. Mais importante que isso é não deixar que a “lua de mel” proporcionada pelo gás nos faça perder noção da importância de diversificar a economia. A nossa economia não pode ser baseada unicamente nos hidrocarbonetos, até por se tratar de um sector que, pelas suas características, absorve pouca mão-de-obra.
Afigura-se importante, por isso, alocar parte dos recursos provenientes da venda do gás aos sectores que sempre foram algo negligenciados, apesar da sua importância, com agricultura à cabeça. O dinheiro do gás pode ajudar a potenciar esta área, garantindo que o país atinja a autossuficiência alimentar, livrando-se assim da grave dependência externa.
Investir nas áreas sociais é igualmente fundamental. A educação, a saúde, a cultura e o desporto, só para citar alguns exemplos, navegam em águas turvas neste momento. O gás pode ajudar a limpar tais águas e catapultar o país para outros patamares.
Cabe aos que lideram o país escolher se querem que nos tornemos Angola ou Qatar. Parece fácil decidir. Não podemos permitir que a riqueza de que dispomos se transforme numa maldição, como tem sido habitual em muitos países africanos.

 

Gostou? Partihe!

Facebook
Twitter
Linkdin
Pinterest

Sobre nós

O Jornal Dossiers & Factos é um semanário que aborda, com rigor e responsabilidade, temáticas ligadas à Política, Economia, Sociedade, Desporto, Cultura, entre outras. Com 10 anos de existência, Dossiers & Factos conquistou o seu lugar no topo das melhores publicações do país, o que é atestado pela sua crescente legião de leitores.

Notícias Recentes

Edital

Siga-nos

Fale Connosco