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Infiltrado e desacreditado: MINT “fora de jogo” no combate aos raptos

À semelhança do que aconteceu em 2012, os raptos voltam a subir de tom com retoques de violência extrema e um enorme à vontade dos criminosos, perante aparente impotência das autoridades policiais. Aliás, já não é segredo que o sindicato que move este negócio milionário tem tentáculos e/ou até bases dentro da própria polícia, principalmente no Serviço Nacional de investigação Criminal (SERNIC). Face a este cenário, que está a desestabilizar a sociedade, os agentes económicos andam preocupados e já estão a fazer démarches com vista a ter um encontro com o Governo para discutir o problema. Segundo informações em nosso poder, algumas organizações políticas submeteram ao Chefe de Estado uma proposta para a criação de uma comissão interministerial que, curiosamente, exclui o Ministério do Interior (MINT), para combater os raptos que, de acordo com estudos, já renderam mais de dois mil milhões de meticais aos criminosos.

Texto: Benety Matongue

Face à aparente inoperância do MINT e envolvimento comprovado de agentes da polícia neste tipo de crime, fontes do Dossiers & Factos indicam que algumas organizações da Sociedade Civil e políticas submeteram ao Presidente da República uma proposta de criação de uma Comissão Estratégica para a prevenção e combate dos raptos. Facto curioso é que tal comissão exclui o pelouro liderado por Pascoal Ronda.

De acordo como um dos membros do grupo proponente, que não quis avançar mais detalhes, a proposta já foi analisada pelo estadista, que entretanto deu orientações no sentido de o documento ser melhorado.

A mesma fonte apontou que a comissão será interministerial, mas devido aos problemas já conhecidos, a integração do MINT está fora de cogitação. Acrescentou que está em vista igualmente a recorrência ao apoio externo para acabar com o crime de raptos.

Para a nossa fonte, “se Filipe Nyusi conseguir estabelecer este mecanismo antes de terminar o mandato poderá sair pela porta grande no que respeita ao combate a este tipo de crime”.

 

Troca de ministros não resolve o crime

No âmbito da procura de melhores caminhos para fazer face ao crime de raptos, o Presidente da República exonerou a ministra do Interior, Arsénia Massingue, que tinha sucedido Jaime Neto, que também saiu sem resolver os crimes de rapto, colocando no seu lugar o actual titular, Pascoal Ronda.

Entretanto, desde que Ronda assumiu o cargo, a rede criminosa intensificou as suas acções, o que leva a crer que nem ele poderá travar o sindicato criminoso.

Analistas acreditam que nem o Presidente da República tem capacidade para acabar com este tipo de crime, porque os mandantes e autores têm infiltrados no seio da polícia e até alargaram as suas influências para os comandos distritais da PRM.

 

CTA quer discutir raptos com o Governo

Preocupada com o recrudescimento dos raptos, o à vontade e impunidade com que os raptores actuam, a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) anda com os nervos à flor da pele. Na semana passada, chegou a marcar uma conferência de imprensa com vista a expor o seu posicionamento, mas, horas depois, adiou e, de acordo com informações de uma fonte interna, o evento ficou sem efeito porque a organização que zela pelos interesses da classe empresarial espera primeiro debater a problemática com o Executivo.

Recorde-se que quando o País começou a registar casos gritantes de raptos e cobranças de resgate com tendência a generalização, semeando o medo entre os agentes económicos e parentes, as comunidades Ismaelita, Mahometana e Indú ameaçaram paralisar o comércio à escala nacional até ao restabelecimento da ordem e segurança públicas.

Na altura, o Governo teve que sentar-se com os representantes daquelas comunidades que controlam o comércio no País de modo a persuadi-los a não paralisarem as actividades, sob pena de prejudicar a economia nacional.

Foi igualmente necessária a intervenção directa do então Chefe de Estado, Armando Guebuza, para dissuadir aqueles grupos sociais e assegurar que continuassem com as suas actividades comerciais, sob a promessa de estancar a onda de raptos.

Analistas acreditam que este tipo de pressão poderia forçar o actual Governo a tomar medidas céleres e eficazes para fazer face aos raptos, que têm vindo a retrair os investimentos e provocar o abandono do País por parte do empresariado.

Um problema sem fim à vista    

Os raptos para fins de exigência de dinheiro de resgate continuam a colocar em causa o Governo de Filipe Nyusi, que, ao que tudo indica, poderá cessar o mandato, que só tem menos de um ano, sem resolver o problema que é atribuído ao crime organizado que terá capturado o Estado.

Nos últimos meses, a capital do País, Maputo, que devia ser a mais segura, tornou-se a mais perigosa não só para os agentes económicos, mas também para a sociedade, no geral, visto que os raptores já não respeitam limites, actuando a qualquer hora e lugar.

Em menos de dois meses, em pleno coração da cidade de Maputo, foram protagonizados três raptos, dois destes abortados graças à intervenção de populares e um consumado, com direito a tiroteio e exibição de pujança bélica por parte dos raptores, numa clara mensagem de gozo de poder e impunidade.

Durante este último rapto, que ocorreu pelas primeiras horas da manhã, quando a vítima, que é proprietário dos armazéns continental, deixava a sua residência com destino ao trabalho, dois seguranças foram baleados e, mesmo diante dos gritos de socorro do raptado e de populares, os raptores não se deixaram intimidar.

Segundo testemunhas, um carro patrulha da Polícia da República de Moçambique encontrava-se nas imediações, mas os agentes nada fizeram para abortar o rapto do empresário de cerca de 70 anos, que é raptado pela segunda vez.

O caso revoltou os populares que testemunharam o acto, tanto que chegaram a apontar às autoridades policiais como coniventes no crime. Passam cerca de duas semanas e a vítima continua em parte incerta e os raptores ainda não foram neutralizados.

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