Os “txovistas” – homens que transportam produtos no mercado grossista do Zimpeto com recurso a carrinhas de mão – exigem ser reconhecidos como uma associação autónoma, desvinculando-se da Comissão dos Vendedores do Mercado Grossista do Zimpeto (CVMGZ). O Presidente da organização, Paulo Sitóe, destaca a necessidade de formalização para a obtenção de certos privilégios, como o pagamento de contribuições ao INSS e a segurança social, além de taxas directamente ao Município.
Texto: Milton Zunguze
Sitóe afirma que a classe se sente desvalorizada pela direcção do mercado e enfrenta barreiras para se formalizar. “Pertencemos à comissão do mercado, mas gostaríamos que não fosse organização, mas uma associação registada para termos certos privilégios. Não trabalhamos com o Conselho Municipal porque dizem que não nos conhecem”, explicou Sitóe.
O líder dos “txovistas ” sublinha a importância dessa formalização para garantir melhores condições de trabalho e reconhecimento. “Queremos que o Governo nos legalize. Não temos outra coisa a fazer, então, queremos que seja uma associação de verdade, e não uma organização qualquer. Estamos disponíveis para cumprir tudo o que for necessário para tal”, afirmou Sitóe.
Problemas com taxas
Há também a questão das taxas cobradas aos “txovistas” no mercado. Embora a taxa oficial seja de 15 meticais, na prática, são cobrados 20 meticais. Segundo uma fonte anónima, essa diferença não é justificada e os trabalhadores não sabem para onde vai o dinheiro excedente. “Eles nos cobram 20 meticais para exercer a actividade dentro do mercado, mas a taxa oficial é de 15 meticais”, explicou a fonte.
Paulo Sitóe, ao ser informado dessa discrepância, demonstrou surpresa e prometeu agir contra essa prática. “As taxas são de 15 meticais, e esse valor é para nos ajudar com várias necessidades. Sobre os 20 meticais, estou surpreso. Vamos começar a agir, pois isso é uma burla”, afirmou Sitóe.
Denúncias e esclarecimentos
Os “txovistas ” também denunciaram outras irregularidades, como a cobrança de 2.500 meticais para se inscrever na associação, o que foi refutado por Sitóe. “Para a inscrição, não exigimos nenhum valor, apenas a cópia do Bilhete de Identidade, declaração do bairro e número de telefone para termos informações sobre a pessoa. As nossas carinhas têm número, nome e coletes para ajudar a identificar. Mas alguns que não fazem parte da organização fogem com os produtos dos outros”, esclareceu Sitóe.
Além disso, alguns “txovistas” reclamam que não recebem ajuda da associação em casos de incidentes, acusação igualmente negada por Sitóe. “Aqueles que dizem que não são ajudados, desde que eu estou no comando, que venham aqui. Luto pela igualdade aqui, empurrar carinha dói, irmão”, concluiu Sitóe.
A denúncia de Delson Joaquim, que veio da província de Gaza em busca de melhores condições de vida, exemplifica a situação enfrentada pelos “txovistas “. “Na verdade, isso acontece, e quando alguém não tira esse dinheiro, levam a carinha e vão guardar. Passam-te uma multa e, quando não se consegue pagar no dia, levam a carinha e te marcam multa”, explicou Delson.
O debate sobre a legalização e formalização dos “txovistas “, no mercado grossista do Zimpeto, continua, com os trabalhadores esperando por mudanças que possam melhorar suas condições de trabalho e assegurar direitos fundamentais.
Um plano que esbarra na desorganização
A nossa equipe de reportagem ouviu César Cunguara, director adjunto da Direcção Municipal da Cidade de Maputo para Mercados e Feiras, sobre a situação dos “txovistas “. Cunguara destacou que esta actividade é específica do mercado grossista do Zimpeto e assegurou que há um plano para esta classe, embora a estrutura e actuação desorganizada do grupo sejam desafios para a sua formalização.
“De princípio, estivemos abertos com eles, mas a grande questão é a estruturação deles como um grupo. Quer dizer, é um grupo, mas a forma desorganizada e desestruturada como eles atuam impede que possamos trabalhar com eles de forma profícua. A nossa intenção era que estivessem formalizados, devidamente identificados e pagando seus tributos ao município, o que reflectiria nos 10% alocados às comissões dos mercados das receitas do mês anterior para atender às necessidades do mercado”, frisou Cunguara.
Ele acrescentou que, se a actividade dos “txovistas ” se tornar “clara e efectiva do mercado”, o grupo poderá ser uniformizado. “Temos um plano. Fizemos cadastro deles para a sua identificação, mas a formalização como tal ainda não ocorreu. Temos essa pretensão na medida em que se tornar uma actividade clara e efectiva do mercado.”
Sobre a cobrança de taxas aos “txovistas “, César Cunguara deixou claro que o município não cobra nenhuma taxa desse grupo. “O município não cobra ao grupo”, afirmou ele.
Em relação à autonomia da comissão do mercado na cobrança de taxas, Cunguara explicou que não está certo se há pagamento e que, se houver, pode ser um acordo entre eles. “Em alguns casos específicos, a comissão pode ter autonomia, como, por exemplo, quando os 10% alocados às comissões dos mercados das receitas do mês anterior não cobrem as necessidades de manutenção dos próprios mercados, como limpeza e pagamento de guardas. Então, em algum momento, nós autorizamos as comissões a fazer pequenas contribuições dos próprios vendedores”, concluiu Cunguara.
Texto extraído na edição 121 do Jornal Dossier económico