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PARA ALAVANCAR A ECONOMIA: “Moçambique deve equilibrar balança comercial”

– Defende Rául Novinte, ex-edil de Nacala

O ambiente de negócios em Moçambique enfrenta diversos desafios, influenciados por factores como o terrorismo na província de Cabo Delgado, que tem causado instabilidade desde 2017, e as dívidas que colocaram o país em uma situação económica crítica. Como resultado, muitas empresas fecharam suas portas, deixando centenas de trabalhadores sem emprego. Para entender melhor esses e outros problemas, o Dossier Económico entrevistou o político e antigo edil da cidade de Nacala Porto, Raul Novinte. Ele descreve a situação actual do país como preocupante e responsabiliza o governo pela crise, sugerindo que a melhor solução para alavancar a economia nacional é importar menos e exportar mais. Acompanhe a entrevista no formato de perguntas e respostas.

Texto: Anastácio Chirrute, em Inhambane

Dossier Económico (DE): Senhor Raul Novinte, qual é a sua avaliação do ambiente de negócios e político no país? Na sua visão, é saudável?

Raul Novinte (RN): O ambiente político seria saudável se os moçambicanos pudessem comprar um saco de farinha, se os professores, policiais e enfermeiros tivessem suas horas extras pagas e recebessem um salário justo. Isso sim seria um ambiente político saudável. Actualmente, o país está parado, resultado da má governança do governo da Frelimo.

DE: Na sua visão, o país não está a registar melhorias tanto no âmbito económico quanto político?

RN: Vou dar um exemplo prático. Quarenta e nove anos após a independência, por que o governo ainda não construiu estradas de qualidade em todo o país? Cerca de 90% das estradas estão degradadas, incluindo a própria EN1. Isso acontece por causa da descentralização, onde até as empresas que constroem as estradas estão descentralizadas. O Estado confia em pessoas que não atendem às necessidades do povo, mas apenas aos seus interesses pessoais. “Nenhum país se desenvolve em guerra”

DE: Esses problemas que o país enfrenta, como o terrorismo em Cabo Delgado, têm algum impacto nisso, ou não?

RN: Claro! Nenhum país se desenvolve com a guerra. A guerra gera destruição e mortes. A situação em Cabo Delgado não está boa, e só se fala de estrangeiros envolvidos nessas matanças, mas nunca há responsabilização. Parece que o governo trata essa informação como sigilosa para que o povo não saiba quem são os autores desses crimes. Há uma mão interna que está a motivar essa guerra em Cabo Delgado.

DE: Em outras palavras, está a afirmar que há pessoas que se beneficiam com o sangue das populações inocentes que estão sendo brutalmente assassinadas?

RN: Em toda guerra, sempre há quem se beneficia. Vemos que o nosso país está a ser apoiado por nações menores, como Ruanda, que tem seus próprios interesses. Nenhum país envia seus soldados para outro sem esperar algo em troca. Ruanda está a ganhar muito com as mortes em Cabo Delgado. Moçambique tem a capacidade de apoiar Ruanda e Burundi, mas somos desorganizados, focamos mais no partido do que no país, e por isso o povo sofre e continuará sofrendo.

DE: Na sua opinião, qual é o real impacto desta guerra na economia?

RN: Toda guerra afecta a economia em todos os aspectos. Como Martin Luther King dizia, qualquer injustiça em algum lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar. O governo, ao invés de se concentrar na construção de escolas, hospitais, entre outros, está mais preocupado em comprar material bélico para promover a guerra. Esse dinheiro poderia ser usado para o benefício do povo, construindo boas estradas, pontes e sistemas de abastecimento de água.

DE: Economicamente, está a afirmar que o país não está saudável?

RN: Sim, muitas pessoas já não aceitam fazer negócios em Cabo Delgado por medo de ataques terroristas. Antes, muitas pessoas de Nampula ou Niassa iam para Cabo Delgado para fazer negócios, mas agora estão com medo. Um país que não produz ou não faz negócios fica parado. Temos muitos factores que impedem o progresso do nosso país. Primeiro, a própria governança não ajuda, e isso reduz o poder de compra da população. Outro problema são os impostos altos. Nenhum país se desenvolve com impostos elevados. Nos EUA e no Brasil, a classe média não paga impostos. Aqui, os impostos são um problema sério, impedindo as empresas de crescerem. Recentemente, aumentaram o custo da internet e das chamadas de voz. Para onde estamos a ir? Moçambique precisa ser reformado.

DE: Para si, a solução seria que o governo devolvesse os impostos às empresas? O país tem condições para isso?

RN: Estou a falar do que acontece em outros países, mas para isso precisamos de um trabalho de base. O próprio moçambicano deve ser registado. Temos NUIT e BI, mas para que servem esses documentos? É possível cobrar de alguém que não tem recursos? Moçambique deve abrir oportunidades de emprego, facilitar a vida das empresas à demanda, desde que abramos as portas para investidores e garantamos emprego para nossos jovens. Assim, poderemos exportar nossos produtos nacionais e nos desenvolver. Valorizamos muito os produtos importados, mas temos muitos recursos aqui. Por exemplo, temos minério de ferro e alumínio. O que está a ser feito com o alumínio da Mozal? Não temos nenhuma indústria que fabrica panelas ou componentes para aviões, criando oportunidades de emprego para os moçambicanos. e indústrias. Precisamos diminuir as importações e aumentar as exportações para que a mão-de-obra moçambicana tenha ocupação.

DE: O país tem capacidade para exportar, considerando o nível de dependência actual?

RN: Temos capacidade de atender à demanda, desde que abramos as portas para investidores e garantamos emprego para nossos jovens. Assim, poderemos exportar nossos produtos nacionais e nos desenvolver. Valorizamos muito os produtos importados, mas temos muitos recursos aqui. Por exemplo, temos minério de ferro e alumínio. O que está a ser feito com o alumínio da Mozal? Não temos nenhuma indústria que fabrica panelas ou componentes para aviões, criando oportunidades de emprego para os moçambicanos.

Texto extraído na edição 118 do Jornal Dossier económico

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