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PERANTE A FALTA DE EMPREGO: Nhonga ganha força como alternativa

Em Moçambique, a intermediação de negócios, também conhecida como “nhonguismo”, está a ganhar cada vez mais adeptos, especialmente entre os jovens. Esta actividade tornou-se uma alternativa viável face à escassez de emprego formal e às condições de trabalho precárias. Histórias como as de Joel Santos e André Guambe são emblemáticas desta tendência crescente, onde jovens encontram na intermediação uma forma de garantir a sua subsistência e crescimento económico.

Texto: Amad Canda

Joel Santos começou a sua jornada no mundo da intermediação aos 16 anos. A sua história começou quando um colega seu procurava uma máquina de cortar ca­belo para iniciar um negócio. Joel soube que o seu vizinho, prestes a emigrar para a África do Sul, queria vender o seu equi­pamento. Vendo uma oportunidade, Joel serviu de intermediário entre o vendedor e o comprador, e a sua primeira comissão despertou-lhe a ideia de um negócio po­tencial.

“Eu percebi que havia uma oportu­nidade em conectar pessoas que que­riam vender com aquelas que queriam comprar. Foi assim que comecei,” conta Joel. Desde então, dedicou-se a desco­brir pessoas interessadas em vender os seus pertences e a encontrar comprado­res potenciais. O negócio cresceu signi­ficativamente ao longo dos anos, e hoje Joel movimenta milhões de meticais inter­mediando a venda de viaturas, imóveis e outros bens.

André Guambe nunca teve um empre­go formal.

Em 2015, após a morte do pai, viu-se obrigado a vender alguns electro­domésticos para sustentar os seus estu­dos. Este início marcou o começo da sua carreira de intermediário. “Quando fiquei órfão, tive que encontrar uma forma de sustentar-me e continuar a estudar. Co­mecei a vender os electrodomésticos que tínhamos em casa,” relembra André.

Neste processo, André conheceu di­versas pessoas interessadas em comprar e vender produtos, e quando esgotou os seus próprios itens para vender, começou a procurar quem tivesse algo para pôr no mercado. “Eu conheci muitas pessoas in­teressadas em vender e outras em com­prar. Foi assim que comecei a vida de nhonguista,” explica. Desde então, tem se dedicado à intermediação, o que lhe per­mite sobreviver num país onde as oportu­nidades de emprego são escassas.

Desafios e oportunidades da intermediação

A intermediação de negócios tem-se mostrado uma resposta à falta de opor­tunidades de emprego em Moçambique. O desemprego afecta cerca de 18,4% da população, de acordo com os dados do Inquérito ao Orçamento Familiar (IOF) de 2022. A taxa de desemprego é particular­mente elevada entre aqueles com níveis de educação secundário (33,5%) e primá­rio (22,0%), atingindo tanto homens quan­to mulheres.

No entanto, a intermediação não está isenta de desafios. Muitos intermediários obtêm rendimentos significativos, mas en­frentam a questão da informalidade. A au­sência de contribuições para o sistema de segurança social deixa-os vulneráveis em casos de incapacidade ou outras even­tualidades. “Nós trabalhamos, ganhamos dinheiro, mas não temos segurança. Se acontecer alguma coisa, não temos para onde recorrer,” diz Joel, reflectindo uma preocupação comum entre os intermediá­rios.

Além disso, a falta de pagamento de impostos representa uma perda signifi­cativa de receita para o Estado e coloca os intermediários numa situação de irre­gularidade perante a lei. “Nós queremos pagar impostos, queremos ser reconhe­cidos, mas o sistema não nos facilita,” afirma André, destacando a necessidade de uma melhor integração deste sector na economia formal.

O caminho para a formalização

Apesar dos desafios, a intermediação de negócios continua a ser uma tábua de salvação para muitos em Moçambique. Para garantir uma maior segurança e es­tabilidade para os intermediários, é crucial que o Governo e as instituições relevantes procurem formas de formalizar este sec­tor. A criação de políticas que incentivem a formalização e a contribuição para a se­gurança social pode proporcionar maior segurança e estabilidade para os interme­diários.

A promoção de programas de formação e apoio ao empreendedorismo pode aju­dar a canalizar esta energia empreende­dora para actividades mais estruturadas e sustentáveis. “Se tivéssemos mais apoio, poderíamos crescer ainda mais e contri­buir de forma significativa para a econo­mia do país,” sugere Joel, reflectindo a ambição de muitos intermediários.

O futuro da intermediação de negócios em Moçambique depende em grande par­te da capacidade do país de integrar este sector na economia formal. Enquanto Mo­çambique luta contra o desemprego ele­ vado, a intermediação de negócios con­tinuará a ser uma alternativa viável para muitos. No entanto, é fundamental que se tomem medidas para garantir que o cres­cimento económico beneficie um maior número de cidadãos e contribua para uma economia mais justa e equilibrada.

A formalização e regulação deste sec­tor podem ser passos importantes para garantir que a intermediação de negócios se torne uma actividade sustentável e segura para todos os envolvidos. “Quere­mos ser parte da solução, não do proble­ma. Com o apoio certo, podemos ajudar a construir um futuro melhor para Moçambi­que,” conclui André, esperançoso.

Com histórias como as de Joel Santos e André Guambe, fica claro que a interme­diação de negócios tem potencial para ser mais do que apenas uma resposta à falta de emprego – pode ser uma parte vital do tecido económico de Moçambique.

Texto extraído na edição 121 do Jornal Dossier económico

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