A data de 7 de Novembro de 2024 ficará marcada como uma das mais sombrias na história do País. Nesse dia, Venâncio Mondlane, candidato presidencial apoiado pelo partido Povo Optimista pelo Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), convocou os moçambicanos para uma manifestação no centro da Cidade de Maputo, em protesto contra os resultados eleitorais que deram vitória ao candidato da Frelimo, Daniel Chapo. Porém, longe de uma manifestação pacífica, como se previa, o evento saiu de controlo, resultando em pelo menos três mortos, 66 feridos, e em actos de vandalismo, saque de bens, e destruição de propriedades públicas e privadas.
Texto: Dossiers & Factos
Dias antes, o jornalista Jeremias Langa, Presidente do MISA – Moçambique, alertara para o risco de possíveis actos de vandalismo e destruição, afirmando que o formato da organização das manifestações, com uma marcha nacional até ao centro da cidade de Maputo, podia representar uma ameaça ao património público e privado.
Logo pela manhã do dia 7, centenas de jovens empunhando cartazes e entoando cânticos tomaram várias ruas e avenidas na periferia da cidade. Através de grupos de WhatsApp, cidadãos de diferentes idades foram convocados a concentrar-se em pontos estratégicos das cidades de Maputo e Matola, com destino final no centro da capital. Contudo, a marcha pacífica transformou-se em confronto com as forças policiais, que se haviam posicionado para evitar distúrbios.
Especulações sobre a intenção dos manifestantes de assaltar o Palácio da Ponta Vermelha e a Presidência circulavam nas redes sociais. Ainda que a veracidade destas informações não fosse confirmada, centenas de manifestantes tentaram forçar a entrada nas principais avenidas da capital através de bairros como Alto-Maé, Coop, Malanga e Chamanculo, sendo travados pela intervenção das Forças de Defesa e Segurança (FDS), que usaram gás lacrimogéneo para dispersar a multidão.
As FDS cercaram pontos críticos, como a área junto à estátua de Eduardo Mondlane, disparando granadas de gás lacrimogéneo em direcção aos bairros da Malanga e Chamanculo, onde centenas de jovens empunhando cartazes tentavam avançar para o centro da cidade. Na Avenida Joaquim Chissano, os manifestantes oriundos dos bairros Polana Caniço, Urbanização, Hulene, Praça dos Combatentes – Xiquelene e da cidade da Matola enfrentaram a forte resistência policial. Carros blindados foram posicionados nas zonas consideradas mais críticas, como a Praça da OMM, Alto-Maé e Luís Cabral, medida que contribuiu para minimizar o vandalismo e prevenir mais mortes.
Dois dias antes, o ministro da Defesa Nacional, Cristóvão Chume, alertara para as intenções dos manifestantes, que, segundo ele, visavam um golpe de Estado. Em conferência de imprensa, Chume defendeu que as FADM, cumprindo a Constituição da República de Moçambique e a Lei de Defesa Nacional, garantiriam a defesa e segurança do País sem se envolverem em disputas políticas ou eleitorais.
A Comissão Política da Frelimo também se pronunciou, com a porta-voz Alcinda de Abreu a declarar: “Moçambique, a nossa amada pátria, está a ser vítima de manifestações violentas que semeiam luto, dor e destruição. Precisamos de nos unir pelo desenvolvimento do País.”
Vandalismo e destruição
O caos tomou conta de várias partes da cidade. Nas avenidas Acordos de Lusaka e Joaquim Chissano, enquanto a polícia dispersava manifestantes, lojas do Centro Comercial Shoprite eram saqueadas. Na loja OK, jovens invadiram, derrubaram portões, quebraram vidros e levaram electrodomésticos e colchões, dirigindo-se ao bairro da Mafalala. Alguns dos bens roubados foram recuperados pela polícia na Praça de Touros.
No bairro da Maxaquene, manifestantes incendiaram o edifício do Comando Distrital da Polícia Municipal de KaMaxaquene, danificaram três tractores e uma pá escavadora do Município, bem como viaturas particulares estacionadas no local. As instalações do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) foram igualmente invadidas, com diversos itens saqueados e outros destruídos, comprometendo os kits de alerta para o actual período chuvoso, essenciais para a segurança de milhares de moçambicanos.
Na Matola, um grupo invadiu um supermercado no bairro de Tsalala, próximo ao mercado de Malhampswene, e roubou diversos produtos. O supermercado estava fechado, mas o grupo, formado por dezenas de jovens, desviou-se de seu trajecto para o assaltar, antes de ser contido pela polícia.
Em vários bairros de Maputo e Matola, registaram- -se assaltos a barracas, lojas e residências particulares. Ruas ficaram bloqueadas por barricadas e pneus queimados, e, em alguns pontos, manifestantes instituíram portagens, cobrando entre 10 e 100 meticais para permitir a passagem de peões e veículos.