Na entrevista exclusiva desta semana, Dossiers & Factos traz Francisco Pagula, o jovem cabeça de lista do partido Frelimo para o cargo de governador da província de Inhambane. Aos 33 anos de idade, Pagula orgulha-se da sua trajectória em diferentes áreas, desde o empreendedorismo à política, passando pela academia. Actualmente administrador do distrito turístico de Vilankulo, Pagula partilha sua visão de desenvolvimento para Inhambane, e promete que, caso seja eleito nas eleições de Outubro próximo, desenvolverá projectos voltados para a juventude e atacará sectores fulcrais, tais são os casos da agricultura, turismo e infra-estruturas.
Texto: Anastácio Chirrute, em Inhambane
Dossiers e Factos (D&F): Foi recentemente eleito cabeça de lista pelo partido FRELIMO ao cargo de governador da província de Inhambane. Qual é o seu sentimento?
Francisco Pagula (FP): É um sentimento de muita alegria, mas também de muita responsabilidade. Carrego não só a minha pessoa, mas também toda a juventude nas costas. É uma oportunidade que o partido Frelimo abriu para a juventude, uma prova de que a Frelimo confia nos jovens. Mais do que responder aos desafios que o País nos coloca, precisamos de mostrar ao partido que nós, os jovens, estamos prontos para contribuir para o desenvolvimento do País.
D&F: Um dos grandes desafios que o País enfrenta neste momento é a intolerância política e, durante quase um ano, partilhou o mesmo espaço com a oposição. Como foi a experiência?
FP: Foi uma convivência tranquila. Fiquei em Quelimane por mais de um ano como administrador, enquanto o edil do município era da oposição. Em termos de convivência, foi uma das melhores que tivemos. Em nenhum momento tivemos problemas; a única preocupação era trazer soluções para a nossa população. Actualmente, também estou a viver o mesmo cenário, dirigindo um distrito que, ao mesmo tempo, é um município liderado pela oposição.
D&F: Em nenhum momento considerou isso como um problema ou ameaça, sendo um dirigente que é membro do partido no poder?
FP: Não constitui nenhuma ameaça. Pelo contrário, como fazedores de política, devemos demonstrar o nível de crescimento da nossa democracia. Precisamos de perceber que, embora as nossas cores partidárias sejam diferentes, a nossa moçambicanidade é a mesma, e precisamos de buscar soluções conjuntas para o nosso povo. “Para haver desenvolvimento, a rede viária tem que estar em condições”
D&F: A província de Inhambane debate-se com o crónico problema de vias de acesso. Que estratégias pretende adoptar para reverter este cenário em caso de vitória?
FP: Temos esse grande desafio das vias de acesso, sobretudo olhando para a estrada Lindela-Tofo. Tofo é um dos destinos turísticos da nossa província, e precisamos de encontrar mecanismos para a reabilitação desse troço. Além disso, precisamos de continuar a mobilizar financiamento para a construção da estrada Mapinhane-Phafuri. Acreditamos que a reabilitação desta via pode trazer um grande desenvolvimento para a nossa província, constituindo um grande corredor de desenvolvimento, pois permite a ligação com o Botswana, África do Sul e parte do Zimbabwe. Os turistas poderão explorar as nossas praias em Vilankulo e Inhassoro, e a via também pode potenciar o turismo do interior.
D&F: As estradas Massinga-Funhalouro e Mapinhane-Mabote são um grande pesadelo, especialmente quando chove. Pode prometer que resolve este problema nos primeiros anos do seu eventual mandato?
FP: Não podemos ignorar as estradas Mapinhane- -Mabote e Massinga-Funhalouro. Temos, por exemplo, a situação da estrada que liga a cidade da Maxixe ao município de Homoine, que ainda é o mais novo município da província de Inhambane. Para permitir que haja desenvolvimento, é necessário que a rede viária esteja em boas condições. Também temos um dos desafios que está a ser ultrapassado na nossa província, que é a EN 240, ligando Pambaza e Vilankulo. Por mais que produzamos, se as estradas não estiverem em boas condições, não temos como escoar os produtos do campo para as vilas ou cidades.
D&F: Como pretende mobilizar os fundos financeiros para a materialização desses objectivos?
FP: Através do sector privado e da alocação de fundos ao nível central. Precisamos apostar no nosso sector privado. Temos visto em algumas partes do País, através de alguns parceiros como a REVIMO, alguma sustentabilidade nas nossas estradas. Antes de colocarmos uma portagem, é necessário que se realize trabalho de manutenção.
D&F: Um dos desafios é o estancamento da exploração inapropriada dos recursos faunísticos em Inhambane. Que argumentos traz para enfrentar este problema?
FP: Em relação aos recursos faunísticos ou florestais, precisamos de olhar em duas vertentes. A primeira é a consciencialização das nossas comunidades, incluindo os exploradores, pois são recursos finitos. A única forma de os tornarmos sustentáveis é através da nossa consciência. Por exemplo, há uma teoria que diz que, quando abatemos uma árvore, precisamos de plantar duas ou três, embora reconheçamos que o período de crescimento dessa árvore é muito longo. “Recursos inesgotáveis devem ser nossa prioridade”
D&F: Falou da necessidade de apostarmos em recursos inesgotáveis. A que se refere em concreto?
FP: A província de Inhambane tem muitos desses recursos, como o turismo, a água e a paisagem. Temos a sorte de termos uma grande costa e águas cristalinas, apreciadas a nível mundial. Precisamos de continuar a trabalhar para que Inhambane continue a ser um dos grandes destinos de África, e quem sabe, do mundo. Temos também recursos finitos, como as areias pesadas de Jangamo e parte de Massinga, mas os recursos inesgotáveis, como a terra fértil e o turismo, devem ser os nossos principais focos para o desenvolvimento da província.
D&F: Como jovem de 33 anos, que políticas juvenis pretende adoptar caso seja eleito?
FP: Sendo ainda muito jovem, compreendo que a maioria da população moçambicana também é jovem. As necessidades da juventude são principalmente a empregabilidade e a habitação. Precisamos de mudar o paradigma de pensamento da nossa juventude, entender que ter emprego não significa necessariamente um emprego formal. Há muitas oportunidades na nossa província através do turismo, agricultura e outros sectores.
D&F: Conseguirá, com isso, responder às preocupações da juventude ou ainda tem mais projectos?
FP: Outro projecto que pode trazer grandes oportunidades de emprego para a nossa juventude é a construção de um parque industrial em Inhassoro ou Vilankulo. Isto permitirá que a Sasol e outras empresas que fornecem equipamentos à Sasol estejam num único parquet industrial. Isso trará muitos benefícios, como a abertura de mais postos de emprego e o aumento da receita da província. Precisamos de encontrar parceiros e sensibilizar a Sasol de que isso pode reduzir os seus custos. “Não haverá espaço para a corrupção”
D&F: Muitos candidatos, incluindo os candidatos à presidência da República, têm como bandeira o combate à corrupção. Qual é a sua?
FP: A melhor forma de servir bem a nossa população e combater a corrupção é consciencializar os cidadãos para que não sejam agentes corruptores, e também os nossos funcionários, para que sejam servidores íntegros. Precisamos de dar o exemplo, começando por nós mesmos, pois a prática da corrupção retrai o desenvolvimento da província. Não haverá espaço para a corrupção, e os funcionários envolvidos neste tipo de crime serão punidos.
D&F: A convivência entre as figuras do secretário do estado e do governador tem sido objecto de in tricados questionamentos. Qual é a sua visão sobre este ponto?
FP: No processo de descentralização, estamos a fechar os primeiros cinco anos, onde contávamos apenas com a figura do governador nas províncias. Agora temos a figura do secretário do estado, que pode ser vista de duas maneiras: é bom, pois há duas figuras que unem esforços para desenvolver a província, mas também pode não ser tão bom, pois repartem os orçamentos. O importante é encontrar o nosso espaço de convergência e servir bem a nossa população.
D&F: Na sua visão, a figura do secretário do estado não ofusca a imagem do governador?
FP: A figura do secretário do estado ofusca para quem está preocupado em fazer imagem, mas não para quem está preocupado em servir. Servir tem a ver com trazer soluções para a nossa população. A lei é clara e delimita as funções de cada um.
D&F: Como avalia a província de Inhambane nos últimos anos? Houve algum avanço?
FP: Comparando com cinco anos atrás, houve uma grande diferença. Encontramos várias infra-estruturas construídas. Por exemplo, era difícil chegar ao distrito de Panda, mas agora a viagem é tranquila. É um crescimento que a província está a registar, embora haja desafios. Acredito que estamos no bom caminho. O candidato da Frelimo à Presidência da República conhece todos os cantos de Inhambane, e eu, se for eleito, terei a oportunidade de trabalhar com ele, pois fui seu assessor. Será um privilégio tê-lo como nosso presidente.
D&F: Inhambane é uma das províncias com maior número de infra-estruturas públicas abandonadas. Como pretende reverter este cenário?
FP: Temos casos de infra-estruturas abandonadas em Mapinhane, Maxixe, Morrumbene, entre outros. Precisamos desenhar estratégias internas para pôr esses mercados a funcionar e consciencializar a população sobre a necessidade de estar em locais seguros. Esse trabalho deve ser feito de forma pacífica e ordeira. Faremos tudo para que, ao longo dos cinco anos, todos esses mercados voltem a funcionar, pois foi um dinheiro que o governo investiu e deve ser bem aproveitado.
D&F: Que província podemos esperar daqui a cinco anos, caso seja eleito?
FP: Daqui a cinco anos, podem esperar uma província que continua a registar crescimento, onde os funcionários fazem de tudo para bem servir a população. Uma província com mais infra-estruturas sociais e uma rede viária em crescimento.
Texto extraído na edição 164 do Jornal Dossiers & Factos