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“CONFLITO INTERNO” NA RENAMO: Jovens puxam orelha aos mais velhos

A crise interna na Renamo continua a escalar e, na última semana, proporcionou episódios perigosos, quando a Unidade de Intervenção Rápida (UIR) cercou e lançou gás lacrimogéneo contra a sede nacional do partido, que havia sido tomada por dezenas de ex-guerrilheiros que exigem a demissão de Ossufo Momade da presidência. Em reacção, e rompendo com a lógica de “alinhamento cego” à direcção do partido, a Liga da Juventude da Renamo condenou o recurso ao “adversário político” [UIR] para resolver problemas internos e exigiu a reconvocação do Conselho Nacional.

Texto: Dossiers & Factos

Está cada vez mais difícil a vida de Ossufo Momade na Renamo, dado o crescimento dos níveis de contestação à sua liderança, sobretudo por parte dos antigos guerrilheiros. Na última quarta-feira, 28 de Maio, dezenas de integrantes do subgrupo que levou a cabo o que a Renamo designa por “luta pela democracia” voltaram a tomar de assalto o “quartel-general” do partido, na cidade de Maputo.

Só que, ao contrário do que sucedeu noutras ocasiões e noutras partes do País – diversas delegações do partido já foram encerradas do Rovuma ao Maputo –, desta vez os antigos combatentes da Renamo foram alvo de uma operação da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), que cercou o edifício, lançou o habitual gás lacrimogéneo e deteve alguns elementos.

A Liga da Juventude da Renamo não gostou do que viu e fez questão de afirmá-lo com todas as letras numa conferência de imprensa realizada na manhã de 29 de Maio. Pela voz do respectivo presidente, Ivan Mazanga, a Liga começou por expressar “choque” diante dos acontecimentos de 28 de Maio, exigindo a retirada dos elementos da UIR, bem como a libertação dos antigos guerrilheiros detidos durante a operação.

“Se esta acção tiver sido efectuada em coordenação e concordância com as estruturas directivas do nosso partido, enquanto Liga da Juventude colocamos aqui a nossa firme e total oposição, porque estamos convictos de que o diálogo incessante deve ser o caminho permanente para ultrapassarmos os nossos diferendos, hoje e sempre”.

Mais adiante na sua alocução, Mazanga recordou que, na sequência da alegada fraude nas eleições autárquicas de 2023, a Renamo dialogou e assumiu “pactos de regime” em nome da estabilidade do País, pelo que não deveria ser difícil “dialogar com os nossos irmãos”.

Visivelmente agastado, o jovem político voltou a dar sinais de acreditar na possibilidade de a acção da UIR – representante de um “adversário [regime] que tende a transformar-se em inimigo” – contra os ex-guerrilheiros poder ter contado com o beneplácito das lideranças do partido.

“É a este regime que recorremos para ultrapassarmos os nossos diferendos? Será que nos esquecemos da última vez em que estas forças tomaram conta das nossas delegações, desde a sede nacional até à Rua das Flores, em Nampula?”, questionou, numa referência a um episódio ocorrido em Março de 2012.

Embora não concorde com o encerramento da sede e das delegações provinciais, a Liga da Juventude vincou que a maior responsabilidade de resolver pacificamente os diferendos recai sobre quem lidera, instando, assim, a reconvocação da sessão do Conselho Nacional “para que juntos, e de forma institucional, encontremos as melhores soluções para o nosso partido”. “

Não estamos contra ninguém” – Ivan Mazanga

A conferência de imprensa de Ivan Mazanga representa um raro momento em que um bloco juvenil de um partido moçambicano se demarca de acções presumivelmente praticadas com o consentimento, implícito ou explícito, da liderança máxima do partido, o que, segundo alguns círculos de opinião, pode indiciar que os jovens da Renamo não estão dispostos a apoiar cegamente a actual liderança.

Recorde-se que o “J” da Renamo constituiu, nos últimos anos, uma das principais bases de apoio a Ossufo Momade. Em Janeiro do ano passado, por exemplo, Ívan Mazanga garantiu, em entrevista à TV Sucesso, que, enquanto Ossufo Momade estivesse no comando, teria o seu apoio. Já em Março, em plena reunião do Conselho Nacional, Mazanga manifestou, em nome da entidade que dirige, total oposição a Venâncio Mondlane, que recorreu à justiça para forçar o partido a realizar o Congresso no qual Momade acabaria por ser reconduzido à liderança do partido – Congresso do qual Venâncio Mondlane foi excluído.

Entretanto, para aferir o alcance da mensagem apresentada pela Liga da Juventude da Renamo, Dossiers & Factos contactou Ívan Mazanga, que tratou de esclarecer que não está em causa o seu apoio à direcção do partido. O político, que é formado em Relações Internacionais e Diplomacia, classificou a conferência de imprensa como um exercício diplomático com vista a aproximar as partes em litígio.

O líder da “J” vincou que, quer as invasões às sedes, quer o recurso à força policial, são actos repudiáveis que não dignificam o partido, reafirmando a necessidade de se convocar urgentemente o Conselho Nacional, não apenas para promover a pacificação, mas também para discutir vários outros assuntos do interesse do partido e do País.

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