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Género: Igualdade ou Equidade?

Texto: Kátia Patricília Agostinho, Economista*

Os contornos da discussão sobre a igualdade do género têm sido afectados pelo evoluir do tempo e as sequelas da procura constante das mulheres pelo seu empoderamento, dando assim origem ao empoderamento feminino que tem como objectivo central promover a identidade da mulher e maior participação das mulheres em todas as esferas da sociedade. Estas discussões ocorrem em um contexto em que historicamente o mundo vem sendo dominado pelos homens e com forte influência de aspectos culturais.

Segundo a literatura, este surgiu como um movimento libertário, sem foco na inserção da mulher na vida política, mas apenas para encontrar formas de obter um melhor relacionamento entre homens e mulheres através da igualdade na vida social, no trabalho e na educação, uma vez que a mulher sempre foi vista como ser inferior e limitado, condenada a desempenhar apenas o papel de doméstica e sem poder de escolha. Isto espelha uma situação de exclusão total da mulher da esfera política e económica das nações, como por exemplo não ter direito a voto e ser relegada exclusivamente a trabalhos domésticos.

Tendo o movimento dado espaço a revoluções, chegou-se a uma fase em que a mulher já está inserida no mercado de trabalho, operando principalmente nas unidades fabris, mas agora enfrentado novos constrangimentos como igualdade salarial, oportunidades no mercado de trabalho com rendimentos proporcionais e reconhecimento de direitos iguais aos dos homens. Já fazendo parte do sector produtivo da economia, começa a ser reivindicada a sua valorização como factor de produção relevante e igualmente produtivo quando comparado aos homens, mas também como seres humanos de direitos. Eu acho que temos que olhar para isto como um grito reivindicativo das mulheres em ter uma identidade e até sentido de pertença e valorização que pretendia tirar a mulher de espaço depreciativo e infeliz.

Actualmente, as mulheres conquistaram a prerrogativa de escolha própria, mobilidade, opinião e decisão sobre si, ocupando posições mais altas na esfera política e económica. No entanto, esses avanços deram lugar a diversos impactos na ordem social, como por exemplo a modificação social do relacionamento entre os homens e as mulheres. Chegado a este ponto, acredito ser importante reconhecer aspectos importantes que influenciam as relações humanas actuais:

  1. Uma nova identidade feminina não completamente dissociada da anterior. Claramente, com o passar do tempo a sociedade observou a mulher despir-se das dependências impostas no passado e formar-se como um ser mais autónomo em relação às suas escolhas, tanto ao nível profissional como pessoal. Este movimento toca também os apectos culturais que, de forma lenta, acompanham o formar da mulher contemporânea. Mas ela nunca se desvinculou,  quer parcialmente ou totalmente, do seu ser natural como a responsável primária do bem-estar familiar, continuando até hoje a velar por estas responsabilidades domésticas e até investindo maior carga horária quando comparada com os homens,  porque além dos afazeres domésticos, muitas mulheres têm hoje carreiras profissionais.
  2. Um novo posicionamento aos homens?. Enquanto ocorria essa “revolução feminina” o que aconteceu com os homens? Provavelmente tinha até saído em seu benefício, visto que, nos dias de hoje, têm os homens a vantagem de partilhar as responsabilidades de ser provedor, que em alguns casos até este tem sido reivindicado como um direito dos homens. Deve haver um entendimento de que o ponto óptimo deve ser de uma parceria win-win, em que não só os homens se beneficiem mas as mulheres também. Por exemplo, deve haver mais compreensão e apoio, pois a satisfação individual da mulher tem efeitos no bem-estar familiar e social.
  3. O ponto de saturação da igualdade dá lugar à necessidade de equidade.  Enquanto com a igualdade pretende-se eliminar os tratamentos diferentes entre homens e mulheres, com equidade, olha-se sob o ponto de vista de justiça, adaptando às regras às especificidades que ambos apresentam, seja a nível biológico, social e cultural. Existe aqui um factor que identifica de forma única uma mulher e a relaciona com aquele que é o seu posicionamento ideal na sociedade, respeitando os seus direitos humanos fundamentais, sendo o mesmo válido para os homens. No campo profissional, investir em iniciativas que criem condições mais favoráveis para que as mulheres sejam cada vez mais incluídas contribui para o alcance da equidade, pois no passado as mulheres foram excluídas. Socialmente e a nível das famílias, é possível dar espaço às mulheres para alcançar os seus anseios profissionais enquanto mantêm a sua feminilidade, gerando desta forma a equidade que se pretende.

É preciso que haja reconhecimento das diferenças físicas, emocionais e sociais entre os homens e mulheres para que a equidade seja efectiva, desde que os direitos humanos fundamentais de ambos sejam respeitados, lembrando que género refere-se à inclusão de ambos, e não ao  isolamento da mulher. Além do mais, o empoderamento feminino não procura adquirir supremacia feminina sobre a masculina, pois a existência desta por um sexo em relação ao outro tem efeitos negativos, como altos níveis de violência baseada no género e insatisfação generalizada do sexo oprimido. Mas procura, sim,  promover o respeito pelos direitos, oportunidades e condições iguais ao sexo oposto.

*Kátia Patricília Agostinho assina a coluna “Economicamente Falando”, do semanário Dossier Económico

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