Os Países que compõem os BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – têm um encontro marcado para esta semana, na vizinha África do Sul, que poderá determinar a consolidação da tão almejada multipolaridade no campo económico. A agenda da cimeira de Joanesburgo inclui discussão sobre a admissão de novos membros e uso de moedas locais nas transacções.
Texto: Amad Canda
Em meio a tensões que relembram os tempos da guerra fria, os BRICS realizam, de 22 a 24 de Agosto corrente, uma cimeira na cidade sul-africana de Joanesburgo. Não haverá presença física do presidente russo, Vladimir Putin, que prefere resguardar-se em face do mandado de captura internacional emitido contra si, mas lá estarão os restantes líderes da organização e, acima de tudo, os temas candentes.
Um deles tem que ver com a admissão de novos países no grupo, que agora conta apenas com os membros fundadores de cujas iniciais resulta a sigla BRICS. Sabe-se que mais de 22 países já mostraram interesse de se juntar àquela agremiação considerada de “economias emergentes”, não obstante conte com a China, tida por alguns analistas como a maior potência mundial. Entre os candidatos estão Argentina, Irão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Cuba, República Democrática do Congo, Comores, Gabão e Cazaquistão.
É preciso notar, no entanto, que a expansão do grupo já acontece na prática, através do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) que, para além dos membros fundadores, conta com Egipto, Bangladesh, Uruguai e Emirados Árabes Unidos. Actualmente, a instituição, com sede em Xangai, na China, é comandada pela antiga presidente do Brasil, a petista Dilma Rousseff.
Desdolarização na agenda
Aparentemente, não será desta que os BRICS lançarão as bases definitivas para a criação de uma moeda única para contornar o dólar norte-americano, em torno do qual gira toda a economia mundial.
Ainda assim, faz parte da agenda da cúpula o uso de moedas locais nas transacções entre países membros e parceiros. “Por que o Brasil precisa de dólar para fazer comércio com a China? A gente pode fazer na nossa moeda. Por que o Brasil precisa de dólar para fazer comércio com a Argentina? A gente pode fazer nas nossas moedas”, questionou recentemente o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, lançando o tom para aquilo que poderá ser a cimeira que se avizinha.
A grande verdade é que a desdolarização, que obviamente não acontece de noite para o dia, já está em marcha entre os BRICS. Recentemente, Brasil e China assinaram um acordo que abre espaço para que as transacções económicas entre os dois países sejam feitas sem o dólar. Segundo Miguel Daoud, comentador brasileiro de economia política, a medida tem, pelo menos, quatro vantagens, nomeadamente: redução das taxas de câmbio (visto que não será preciso converter as moedas em dólar), protecção contra flutuações cambiais, simplificação de transacções comerciais e maior confiança mútua.
Ainda de acordo com o analista, citado pelo portal Canalrural, há desvantagens a ter em conta, nomeadamente: pouca liquidez e pouca disponibilidade da moeda chinesa (Yuan) no mercado internacional, devido ao facto de ser relativamente nova; elevado risco cambial, em virtude de as moedas serem negociadas de forma directa; dificuldade de negociar sem usar o dólar, pelo facto de ser uma moeda global; e limitação da capacidade de cobertura, dado que a maioria dos instrumentos financeiros disponíveis para cobrir riscos cambiais está em dólar norte-americano.
Refira-se que o Yuan é também a moeda de liquidação entre a Rússia e as economias emergentes da América Latina, Ásia e África, tendo sido adoptada depois da decisão tomada conjuntamente pelos líderes russo e chinês, Vladimir Putin e Xi Jinping.