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Engenheiro de sonhos: Ramiro Rudias, 30 anos de pedra e alcatrão

A engenharia civil não é apenas uma profissão; é a espinha dorsal que sustenta a nossa civilização moderna. Quando se fala sobre os alicerces que tornam o progresso possível, o nome de Ramiro Joaquim Rudias inevitavelmente vem à tona. Este dedicado engenheiro, actualmente delegado provincial da Administração Nacional de Estradas (ANE) na Zambézia, tem sido um pilar na construção de Moçambique, dedicando mais de 30 anos ao serviço do seu País.

Texto: Serôdio Towo

Desde que começou a sua carreira como simples técnico de construção civil aos 25 anos, Ramiro Rudias contribuiu significativamente para a melhoria das infra-estruturas de transporte nas províncias de Sofala e Zambézia. O seu trabalho não só facilitou a circulação de pessoas e bens, mas também acelerou o desenvolvimento económico destas regiões depois de mais de década e meia de destruição. “Começámos com a reabertura das estradas logo depois dos acordos de paz. Praticamente não havia estradas; estavam bloqueadas há cerca de 16 anos. Fomos abrindo uma por uma até conseguirmos ter as estradas que temos hoje. Foram desafios enormes, mas conseguimos superá-los.”

A herança de um sonho familiar

Rudias nasceu com a paixão pela engenharia cravada no coração, uma paixão que foi plantada por seu pai, um antigo trabalhador dos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM). “O meu falecido pai fazia parte do VO, trabalhava nos Caminhos de Ferro de Moçambique, e ele sugeriu que eu seguisse os seus passos. Embora não fosse engenheiro, admirava a engenharia e os brancos que trabalhavam nela. Foi assim que me inscrevi em engenharia civil”, partilha o engenheiro com um sorriso nostálgico.

Apesar de não ter nenhuma ligação directa com engenharia, o pai de Ramiro Rudias inspirou-o a seguir um caminho que acabaria por definir a sua vida. “Estudei engenharia civil em Cuba. Quando regressei a Moçambique, tive a sorte de ingressar na Direcção Nacional de Estradas e Pontes, antes de me juntar à ANE. Desde então, nunca olhei para trás.”

Perda e superação no “campo de batalha”

A carreira de Ramiro Rudias não foi isenta de desafios. Durante a reabilitação da EN1 no troço entre Inchope e Gorongosa, ele viveu um dos momentos mais traumáticos da sua vida. Perdeu um colega próximo, um engenheiro italiano, num trágico acidente de trabalho. “Isso quase me fez desistir da carreira”, lembra Rudias com tristeza. “Encontrámos esqueletos humanos e estradas bloqueadas, e tivemos que usar machados e catanas para abrir caminho.”

Apesar do trauma, Rudias encontrou forças para continuar. “Fiz parte da equipa da ponte sobre o rio Zambeze, a actual ponte Armando Guebuza. Na altura, o nosso director de projecto era o engenheiro Elias Paulo, que é agora o director da ANE. Continuo a contribuir para a melhoria da rede de estradas na província de Sofala e Zambézia, e planeio fazê-lo até esgotar as minhas forças.”

O Sonho de um País conectado

Ramiro Rudias não é apenas um construtor de estradas; é um construtor de sonhos. O seu maior desejo é ver Moçambique ligado do norte ao sul e do Zumbo ao Índico por via rodoviária através da N1. Ele sonha com um futuro onde todas as estradas estejam em perfeitas condições de transitabilidade.

“Estamos a enfrentar desafios, mas acredito que chegaremos lá. Todos os países com boas redes rodoviárias enfrentaram os mesmos obstáculos. O que almejamos é que, num futuro próximo, tenhamos toda a rede em boas condições. Especialmente agora que estamos a utilizar o sistema pagador, como as portagens”, diz Rudias com esperança.

Ele também destaca a importância de construir infra-estruturas resilientes, especialmente num País frequentemente afectado por desastres naturais. “Temos que nos adaptar às mudanças climáticas. Não podemos controlar a natureza, mas podemos construir infra-estruturas que resistam às suas adversidades. É crucial que incorporemos a resiliência nos nossos projectos.”

Apelo ao respeito pela Lei

Apesar dos avanços, Rudias expressa uma preocupação crescente com o incumprimento das leis de ocupação das áreas reservadas para estradas. “Os maiores infractores são os próprios governos e municípios, que atribuem DUATs a cidadãos para construir em zonas proibidas”, alerta Rudias.

“Na zona de Quelimane, entre o km 0 e o km 4.6, enfrentaremos enormes dificuldades para alargar a estrada devido às infra-estruturas construídas ao longo das vias. A compensação dessas estruturas tem um custo elevado, e o Estado pode não ter condições para indemnizar os proprietários. Como consequência, o projecto de construção de estradas com dois tipos de perfil não terá pernas para andar.”

Segundo a fonte, “um perfil para a área rural é de 12 metros, com uma berma revestida de 1.5m de cada lado, uma berma não revestida de 1 metro, e uma faixa de rodagem de 3.5m para cada lado. Para a área urbana, são 17.4m, com 2.5m para ciclovia, 2 metros para passeio, 1 metro de berma, e 2.2 metros de faixa de rodagem para cada lado. Isso será comprometido por causa da ocupação das zonas de reserva.”

O legado de um homem dedicado

Rudias é mais do que um engenheiro; ele é um visionário que vê além das estradas e pontes. Ele vê um Moçambique conectado, um País onde cada quilómetro de asfalto representa progresso, esperança e um futuro melhor para todos os seus cidadãos. Ele continua a lutar, não apenas para construir estradas, mas para construir um legado que perdure muito além da sua própria carreira.

Em suas próprias palavras, Ramiro Rudias conclui: “o meu sonho é ver todos os governos a cumprirem cabalmente a lei. Continuarei a lutar por um Moçambique melhor, porque sei que um dia chegaremos lá. Como costumo dizer, estamos a construir o caminho para o nosso futuro, e cada estrada é uma promessa de um amanhã mais brilhante.”

Texto extraído na edição 577 do Jornal Dossiers & Factos

 

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