EnglishPortuguese

Fome causa insónia em quatro distritos de Manica

Está confirmado: há insegurança alimentar aguda em pelo menos quatro distritos da província de Manica, na zona centro de Moçambique, com mais de 160 mil afectados. Trata-se dos distritos de Tambara, Macossa, Guro, a norte da província, e Machaze, na zona sul, cujos habitantes estão a passar mal por falta de comida aliada à queda irregular das chuvas, o que fez com que as machambas ficassem secas.

Texto: António Cumbane

A situação está a criar “stress”, uma vez que as populações se vêem obrigadas a minimizar tudo para, pelo menos, assegurar o jantar e não prejudicar o sono à noite.

A governadora da província de Manica, Francisca Domingos Tomás, disse, que aqueles quatro pontos atingiram uma classificação de emergência alimentar de nível três, o que sugere uma rápida e pronta intervenção para salvar vidas humanas.

“Há outras famílias que estão na fase quatro. Portanto, isto nos preocupa bastante. Disponibilizámos cerca de 38,2 toneladas de sementes diversas, pesticidas, instrumentos de trabalho e fertilizantes, oito sistemas de irrigação e fundos aos produtores para minimizar a situação. Igualmente, accionámos o INGD e outros parceiros para a mobilização de produtos para os casos mais críticos”, disse.

Refira-se que Tambara e Machaze são pontos extremos e mais longínquos da província de Manica, onde até o transporte é raro. Os passageiros sujeitam-se a longas esperas e “entulhos”, para além de castigos durante a viagem devido às covas e poeira. Só para se ter uma ideia, estima-se em cerca de 400 quilómetros de estradas a percorrer ao sair de Chimoio para se chegar lá.

“Macossa também é longe, mas Tambara e Machaze são extremos e nem têm chovido com regularidade. Em Machaze, por exemplo, predomina a bicicleta pilotada por mulheres para buscar água a mais de 20 quilómetros de distância. Tambara, apesar de ser banhado pelo rio Zambeze, também não testemunha chuva. Mesmo nas zonas baixas, não tem havido comida suficiente”, comentou em entrevista Mito Lucas, académico.

O distrito de Machaze faz fronteira com os distritos de Massangena, em Gaza, e Chibabava, em Sofala, enquanto Tambara se separa de Sofala a partir do distrito de Chemba, a leste, e depois do rio Zambeze, do distrito de Doa, na província de Tete.

Em Tambara, quando não é a seca a provocar fome, é o próprio rio Zambeze que, com a subida do seu caudal devido às descargas da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, transborda e inunda machambas nas áreas baixas.

“É um dilema que a população tem encarado de forma cíclica naquele distrito, um dos maiores produtores de feijão manteiga na província. Precisamos de estudar melhores mecanismos para lidar com a natureza. Não podemos passar fome onde há um rio com água em abundância. Lá, até há pessoas que são atacadas por crocodilos ao buscar água no rio, tudo por falta de sistemas de abastecimento daquele líquido”, descreveu Mito, apontando a troca de experiências como uma das soluções para o problema.

“Este é um dado muito importante. Machaze pode trocar experiências com Massangena e Chibabava, que são distritos de outras províncias, com as mesmas semelhanças, mas sem tanta fome assim. Tambara pode fazer o mesmo com Chemba. Agora, Macossa deveria aproveitar o seu potencial, como maior detentora da fauna bravia e das coutadas, para ajudar a população neste momento de crise”, finalizou.

Gostou? Partihe!

Facebook
Twitter
Linkdin
Pinterest

Sobre nós

O Jornal Dossiers & Factos é um semanário que aborda, com rigor e responsabilidade, temáticas ligadas à Política, Economia, Sociedade, Desporto, Cultura, entre outras. Com 10 anos de existência, Dossiers & Factos conquistou o seu lugar no topo das melhores publicações do país, o que é atestado pela sua crescente legião de leitores.

Notícias Recentes

Edital

Siga-nos

Fale Connosco