EnglishPortuguese

Mais um 8 de Março em tempos muito difíceis para as mulheres

Texto: Kátia Patricília Agostinho, Economista*

Na semana que se celebra o 8 de Março, dia internacional da Mulher, teve lugar a reunião da comissão das Nações Unidas sobre o estatuto da Mulher, órgão dedicado à promoção da igualdade de género e empoderamento das mulheres, onde o Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, referiu que o progresso alcançando ao longo de décadas nos direitos das mulheres está a desaparecer no mundo actual e a igualdade de género está cada vez mais distante, estando atrasados em centenas de anos, acrescentando que os direitos das mulheres estão a ser abusados, ameaçados e violados em todo mundo, havendo até países que se opõem a incluir a agenda de género nas discussões.

O que podemos entender com pronunciamentos destes, vindo de uma pessoa posicionada estrategicamente para ter acesso à informação real e privilegiada do que de facto está a acontecer por de trás dos relatórios que lemos todos os dias? Essa é a verdade. Às vezes, tenho a impressão de que secretamente indivíduos e nações desejam subjugar a mulher ao papel que ela teve a milhares de anos atrás, um ser humano em posições diminuídas e tratada como objecto apenas útil para coisas limitadas e promíscuas, quase como uma escrava. Digo secretamente sim, porque muitos dos discursos de apoio ao empoderamento das mulheres são vazios e sem acções concretas, mas por detrás das ‘’câmeras’’ são os mesmos discursantes que cometem atrocidades contra os direitos das mulheres.

É por isso que:

  • Quando a mulher sofre violência de qualquer das formas, a culpa é atribuída a ela, seja pelas palavras que proferiu, pela forma como se comportou, pela hora que se fez à rua, mesmo se estiver a voltar da escola ou do trabalho, pela roupa que vestiu ou qualquer outro motivo sem sentido, porque é mais fácil culpar a ela e mais difícil para esta sociedade aceitar que o outro ser humano, homem, deve ter responsabilidades pelo seus actos também. É como se o corpo dela pertencesse aos outros e não a ela própria, como se as ruas não fossem para ela caminhar assim como os homens, é como se um “não” significasse nada, mas nenhum homem tem ou passa por essa experiência ou é bastante raro quase inexistente.

 

  • Quando a mulher é vítima de um crime, pouco se faz para chamar à justiça os responsáveis por esses crimes, muitas vezes os que deviam envidar esforços para que a justiça seja feita podem ser coniventes e fazem uso do poder que detêm para cometer crimes e saírem impunes.

 

  • Os crimes cometidos contra as mulheres e raparigas, durante os conflitos armados, que estão a crescer cada vez mais, são ignorados e quase nunca reportados. Parece que existe um poder invisível atribuído aos homens para usar e para abusar das mulheres nessa situação.

 

  • A crescente onda de crime baseado no género ou feminicídio, que tem se verificado em Moçambique e no mundo, só reflecte como muitos vêem a mulher, e há uma necessidade urgente de mudar a percepção e como a mulher é vista por todos, principalmente pelo ser humano do sexo masculino.

 

  • Infelizmente há cada vez menos união entre as mulheres e muito porque a própria sociedade ensina a elas a forma competitiva de ser e estar.

Repiso a questão do ser humano porque todos nós antes de sermos classificados como homem ou mulher somos todos seres humanos, e como ser humanos merecemos o respeito, a valorização e o espaço para cada um ser o que bem entender na procura do que são os seus mais profundos desejos. Isso vem acima do que regras societárias e culturas muitas vezes deslocadas podem ditar, pois, como seres humanos, temos direitos fundamentais. Nenhuma cultura ou regra societária deve passar por cima dos direitos humanos fundamentais das pessoas.

O empoderamento feminino não é moda nem deve ser banalizado, este é um processo que levou o sacrifício de muitas e muitos para que as mulheres pudessem ter vida e voz hoje, embora haja constante luta para o contrário.

Temos poucos motivos para celebrar, mas a nossa força natural e característica nos mantém em pé, pois, não é possível estar bem quando uma outra mulher igual sofre todo o tipo de desumanidade. Já agora, muito obrigada António Guterres por levantar a sua voz a favor das mulheres, pedimos que continue a agir.

 

*Kátia Patricília Agostinho assina a coluna “Economicamente Falando”, do semanário Dossier Económico

 

Gostou? Partihe!

Facebook
Twitter
Linkdin
Pinterest

Sobre nós

O Jornal Dossiers & Factos é um semanário que aborda, com rigor e responsabilidade, temáticas ligadas à Política, Economia, Sociedade, Desporto, Cultura, entre outras. Com 10 anos de existência, Dossiers & Factos conquistou o seu lugar no topo das melhores publicações do país, o que é atestado pela sua crescente legião de leitores.

Notícias Recentes

Edital

Siga-nos

Fale Connosco