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Nyusi “paga” reeleição com carros luxuosos

Numa altura em que o Governo enfrenta crise por conta da Tabela Salarial Única (TSU), que está a ser contestada por vários sectores da Função Pública, Filipe Nyusi decidiu oferecer luxuosas viaturas aos primeiros secretários do partido Frelimo. O gesto é visto em diferentes sectores como forma de agradecimento pela sua recondução ao cargo de presidente do partido e revela insensibilidade para com as inquietações de milhares de funcionários públicos, especialmente professores, a quem o Chefe de Estado acusou de estarem a “complicar” o Governo.

Em finais de Setembro último, Filipe Nyusi foi reconduzido, com questionáveis “100%” de votos, ao posto de presidente da Frelimo. Para que tal acontecesse, foi importante o papel dos primeiros-secretários dos Comités Provinciais, tidos como da sua inteira confiança, até porque todos renovaram os seus mandatos em eleições sem concorrência, graças à imposição das lideranças do partido ao nível central. Como se pode provar, Nyusi não se esqueceu disso e, na última semana, fez um gesto “luxuoso” de agradecimento.

Cada primeiro-secretário provincial recebeu uma viatura top de gama, cujos custos de cada ultrapassam 8. 000. 000 MT (Oito milhões de meticais). O gesto estendeu-se aos actuais membros do Secretariado do Comité Central e à secretária do Comité de Verificação, numa iniciativa que, segundo a própria Frelimo, visa “incrementar a acção política do partido na base”.

Entretanto, mais do que um simples acto de agradecimento, a oferta dos 17 carros é entendida como o início do processo do “massageamento do sistema”, tendo em vista o alcance do tão propalado terceiro mandato também na Presidência da República, um objectivo que o Chefe de Estado não assume publicamente, mas para o qual os seus defensores, nas redes sociais, conhecidos como “Mahindras digitais”, estão a trabalhar arduamente.

Recorde-se que foi por ter aconselhado Nyusi a não embarcar na “aventura” do terceiro mandato que Castigo Langa, ex-membro do Comité Central, foi excomungado dos órgãos de decisão da Frelimo, após uma reprimenda pública pela Comissão Política.

 

Acto inoportuno e revelador de insensibilidade

 A exibição de luxo por parte do partido que está à frente do Governo teve lugar no sábado, 12 de Novembro, um dia depois de o Presidente da República ter tratado com desprezo as reclamações dos professores em torno da TSU. Num tom jocoso, o mais alto magistrado da Nação orientou esta classe para que “não faça esforço de complicar o Governo”, em referência às ameaças de boicotar a monitoria do processo de realização dos exames, que inicia esta segunda-feira no ensino primário.

As palavras do Chefe de Estado, associadas aos presentes milionários que deu aos seus camaradas do partido, caíram mal no seio da classe docente e da sociedade, em geral, porque sugerem que Nyusi está a relegar as inquietações dos funcionários do Estado a um plano secundário. Apesar de, em teoria, o dinheiro usado para a aquisição das viaturas pertencer ao partido, e não ao Estado, há uma percepção generalizada de que o momento da oferta é completamente inoportuno e apenas agrava a deterioração da imagem de um Governo que está em crise, da qual “só os próprios membros não se dão conta”. Aliás, o gesto de Nyusi causou incómodo até no seio do partido do “batuque e maçaroca”, com os camaradas a não entenderem como é que “tanta luxúria” ajudará o partido nas bases.

Vale lembrar que a classe docente não é a única insatisfeita com os problemas de enquadramento na TSU, que parece privilegiar os chefes em detrimento dos técnicos, sobretudo os N1. Os médicos, juízes e até mesmo funcionários do Ministério da Economia e Finanças (Pelouro responsável pela elaboração da tabela) estão igualmente insatisfeitos. A nível das Forças de Defesa e Segurança, os salários ainda são pagos com base na tabela salarial antiga, justamente por terem sido detectados erros na TSU.

Neste contexto, o deselegante recado de Nyusi, aos professores, classificado como “insulto”, é interpretado como extensivo aos restantes grupos profissionais que também se sentem injustiçados.

Este é mais um “deslize” dos vários que o Presidente tem tido, sendo que muitos até são ignorados pela crítica porque, parafraseando Paulo Santana, “vivemos numa era em que os esclarecidos são obrigados a ficar calados para não ofenderem os ignorantes”.

 

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