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A estranha atracção entre Moçambique e o narcotráfico brasileiro

Moçambique é conhecido como um dos maiores corredores do tráfico internacional de droga, reputação negativa difícil de contrariar quando, à miúde, surge nas mesmas frases que fazem referência aos principais rostos do Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, Brasil. Olhando para o alto escalão daquela que é tida como a maior organização criminosa da América Latina, apenas Marcola não tem ligações conhecidas com a Pérola do Índico, já que Fuminho chegou a morar em Maputo e o foragido Tuta a trabalhar no Consulado moçambicano em Minas Gerais.

Texto: Amad Canda

A imprensa brasileira tem reportado fartamente a recente condenação de Marcos Roberto de Almeida, conhecido nos meandros do crime por Tuta, por associação criminosa e lavagem de 1 bilhão de reais do PCC, facção criminosa de que teria sido “líder nas ruas” nos últimos anos, dada a circunstância de as primeiras duas figuras da hierarquia – Marco Willians Herbas Camacho (Marcola) e Gilberto Aparecido dos Santos (Fuminho), respectivamente – encontrarem-se na prisão.

Foragido há cerca de cinco anos, Tuta foi condenado a 12 anos de prisão pela Justiça de São Paulo, cidade-sede do PCC. Segundo a SBT, suspeita-se que o criminoso esteja na Bolívia, embora se avente, igualmente, a possibilidade de ter sido morto a mando de uma outra figura do topo da hierarquia do grupo.

Adido comercial do Consulado de Moçambique

Nos últimos anos, quem vai à internet pesquisar os principais rostos do PCC arrisca-se a encontrar o nome “Moçambique”, dado o estranho magnetismo que os principais líderes do cartel têm com o País ou vice-versa. No caso de Tuta, a ligação chegou mesmo a ser contratual, visto que o brasileiro trabalhou no Consulado de Moçambique no estado de Minas Gerais, no sudeste do Brasil.

Era já foragido quando, entre 2018 e 2019, fez as vezes de adido comercial na representação diplomática de Moçambique naquele estado. Em declarações no âmbito do processo, Deusdete Januário Gonçalves, então cônsul honorário de Moçambique em Minas Gerais, assegurou que Tuta “preenchia todos os requisitos necessários” para o cargo, segundo escreve o portal Metrópole.

A mesma fonte acrescenta que Deusdete descreveu o criminoso, que ganhava 10 mil reais no Consulado, como um “homem de grande idoneidade” e que “desempenhava sua função correctamente”.

O depoimento do diplomata moçambicano é citado na sentença proferida na terça-feira, 27 de Fevereiro, e que também condena outros três membros do PCC, entretanto já encarcerados, a 12 anos de prisão.

Fuminho: o número dois do PCC que fez de Maputo sua capital

Embora Tuta tivesse assumido as ruas na terra do Samba, os dois principais cérebros do PCC continuavam a ditar as políticas de uma organização que é um autêntico estado paralelo, contando com mais de 30 mil membros. Um deles (Fuminho) – o braço direito do todo-poderoso Marcola – estava na diáspora, concretamente na cidade de Maputo, onde foi preso, em 2020, numa operação que envolveu o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), a Polícia Federal do Brasil e a agência norte-americana de combate ao tráfico de droga, a DEA.

Fuminho era um dos criminosos mais procurados do Brasil e estava foragido desde 1999, altura em que se evadiu da prisão.

Tendo causado algum choque internamente, a escolha, por parte de Fuminho, de Moçambique como “porto de abrigo” não surpreendeu as autoridades brasileiras, pelo menos a avaliar pelas declarações do procurador Lincoln Gakiya, do Grupo de Actuação Especial e Combate ao Crime Organizado (GAECO), que na altura afirmou que os países africanos são muito procurados pelo narcotráfico para servirem como porta de entrada da droga na Europa.

Refira-se que Moçambique é considerado um dos principais corredores de droga, que tem na Europa e outros continentes os principais destinos. Entre as variedades que transitam pelo solo pátrio, o destaque vai para Haxixe, heroína, cocaína e metanfetamina.

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